Onde se esconderam os democratas liberais?

09.11.2025

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O Antagonista

Onde se esconderam os democratas liberais?

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Augusto de Franco
5 minutos de leitura 27.11.2022 15:00 comentários
Opinião

Onde se esconderam os democratas liberais?

Sempre que se usa a palavra liberal é necessário advertir que isso não tem nada a ver com as doutrinas do liberalismo-econômico ou com chamado neoliberalismo. Para todos os efeitos práticos, liberal - no sentido político do termo - significa hoje apenas uma coisa: não-populista. No primeiro turno de 2022 muitos estavam convencidos de que seria preciso construir um centro democrático liberal...

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Augusto de Franco
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Onde se esconderam os democratas liberais?
Montagem

Sempre que se usa a palavra liberal é necessário advertir que isso não tem nada a ver com as doutrinas do liberalismo-econômico ou com chamado neoliberalismo. Para todos os efeitos práticos, liberal – no sentido político do termo – significa hoje apenas uma coisa: não-populista. No primeiro turno de 2022 muitos estavam convencidos de que seria preciso construir um centro democrático liberal (quer dizer, não-populista) no Brasil. A candidatura de Simone Tebet, de certo modo, expressou esse desejo.

Com o afunilamento da disputa entre o populismo-autoritário bolsonarista e o neopopulismo lulopetista, esse desejo parece ter se esfumado. Ficou a impressão de que a (incorretamente) chamada terceira via (outra designação para o centro democrático) não passava de marketing eleitoral. Muitos que queriam apostar numa alternativa a Bolsonaro e a Lula ficaram pendurados na broxa quando várias lideranças, após declararem – corretamente – apoio a Lula no segundo turno, começaram a costear o alambrado para aderir ao novo governo. Como se dissessem: “Agora a conjuntura mudou: a gente entra no novo governo e só volta com esse papo de centro democrático (ou de terceira via) em 2026”.

Apoiar Lula no segundo turno foi a opção democrática correta, de vez que era a única maneira de impedir a reeleição de Bolsonaro – que só não aconteceu, aliás, por um triz. Mas aderir ao governismo não é a consequência necessária de ter removido eleitoralmente Bolsonaro. Ou um centro democrático – no sentido de centro de gravidade da política e não de posição geometricamente equidistante dos polos ditos de direita ou extrema-direita e de esquerda – é necessário para o bom funcionamento da democracia, ou não é.

Já que Lula foi eleito, isso não é mais necessário? Pelo contrário. Continua sendo necessário um centro de gravidade democrático liberal ou não-populista. Mas se todos os que viam essa necessidade vão embarcar no novo governo, quem articulará tal alternativa (não em 2026, mas em 2023, 2024, 2025)? Se os democratas liberais se esconderem da política, imaginando que o país vai ficar parado até o próximo pleito, então de nada valeram seus esforços e promessas no primeiro turno.

O tema é crucial porque a sobrevivência (ou, pelo menos, o desempenho) da política (democrática) depende disso. Vejamos o que pode acontecer.

Os bolsonaristas não aceitaram – e, ao que tudo indica, não aceitarão – a derrota eleitoral. Não reconhecerão o governo como legítimo. Mas não poderão ficar o tempo todo interrompendo o tráfego nas estradas e atravancando as portas dos quarteis esperando uma sublevação militar. Após a posse de Lula como alimentarão o movimento golpista? Vão fugir para as montanhas aguardando que um disco voador traga o seu redentor tendo nas mãos as tábuas da Lei (o Artigo 142 da Constituição falsificado como autorização para um golpe militar)?

Parece que não. Tendo marcado sua posição, numa imitação barata do trumpismo, de que a eleição foi fraudada, eles continuarão no seu partido digital (nos grupos e listas de WhatsApp e Telegram), mas sobretudo em localidades e setores de atividade já colonizados.

Categorias como caminhoneiros e policiais e localidades pequenas e médias do interior do país vão continuar sendo bolsonaristas. Periodicamente vão ensaiar movimentos de contestação da ordem democrática, esperando momentos em que o governo cometa erros e fique mais vulnerável.

Tratar tudo isso – incluindo os quase 60 milhões de eleitores de Bolsonaro – como um bloco fascista só aumentará sua coesão. Deixar que a oposição ao governo seja apenas a oposição antidemocrática bolsonarista acirrará a guerra civil fria que se instalará e consolidará a divisão da sociedade brasileira que saiu das urnas de 2022.

Para evitar isso, o governo terá de fazer política e não se encastelar como o exército do bem em luta contra as forças do mal. As forças da democracia não podem ser todas engolidas pelo governo, do contrário não haverá válvula de escape para as tensões que se acumularão.

Se não houver pluralidade de forças, inclusive de oposição democrática, a política se resumirá ao perde-ganha bipolar, com mais características de guerra do que de política. Será, a rigor, antipolítica. Mas, como sabemos, para a democracia, não há solução sem política. E a experiência das 34 democracias liberais que remanescem no mundo (segundo o V-Dem Institute, da Universidade de Gotemburgo) mostra que não pode haver democracia liberal sem oposição democrática.

Uma falsa frente ampla não resolverá o problema. Frente eleitoral para impedir a reeleição de Bolsonaro existiu, sim – e ainda bem. Mas frente eleitoral não vira frente ampla para governar o país por força de loteamento de cargos e distribuição de outras benesses para os que querem ficar nas próximidades do poder. Para haver frente ampla é preciso ter coordenação conjunta plural e programa mínimo comum. Isso não há. E, mesmo que houvesse, não dispensaria a atuação cotidiana de uma oposição democrática.

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